O Hip Hop e o Movimento Negro nos Estados Unidos da América

 

O Hip Hop é um fenó­meno mun­di­al, mas tor­na-se obrig­atório traçar as ori­gens da música e como esta está espe­cifica­mente inter­li­gada ao desequilíbrio social daAmérica negra através dos ele­men­tos políti­cos implí­ci­tos. Os ele­men­tos da cul­tura Hip Hop foram iden­ti­fic­a­dos com os movi­men­tos proemin­entes do movi­mento negro das déca­das de 60 e 70, o que pro­moveu uma essên­cia lig­ada ao Nacion­al­ismo Negro. O Hip Hop fun­diu duas das mais poder­osas formas de arte negra; a poesia e o Jazz pro­por­cion­ando a form­ação da iden­tidade de mui­tos jovens Afro-Amer­icanos que se debatem com questões de género e iden­tidade. Tendo vindo a ser neg­ada, a cul­tura negra, sufo­cada pela suprem­a­cia branca, encon­trou no Hip Hop uma ideal­iz­a­ção uni­ver­sal que encora­jaria o orgulho negro através da empa­tia para com os prob­lemas enfrentados. 

Sendo um movi­mento político mun­di­al de Africanos, o movi­mento Black Power da década de 60 foi uma ignição para a esper­ança demo­crát­ica da América Negra, sufo­cada social­mente. Pela primeira vez, os negros estavam capa­cit­a­dos para abraçar aber­ta­mente e com orgulho a sua her­ança cul­tur­al, ao mesmo tempo que lutavam pela abol­ição do racismo inter­i­or­iz­ado. Apesar desta união em mui­tos casos os cid­adãos negros era ainda trata­dos de forma desigual sendo que algu­mas das soluções desen­ha­das peloBlack Power, assum­iam muitas vezes o uso de armas vis­ando a auto-defesa. 

No seu liv­ro, Out­law Cul­ture, Bell Hooks aborda a forma como o movi­mento Black Power, desafiou o povo negro a exam­in­ar em si o impacto da suprem­a­cia branca. Os ideais de beleza reflec­tiam esta suprem­a­cia e ali­mentavam este racismo inter­i­or­iz­ado e era a esta des­val­or­iz­a­ção da Negritude a que se des­tinava polit­ica­mente o movi­mento. No ent­anto, Hooks observa que à medida que foram con­quista­dos direit­os que levavam à liber­dade de rumar ao sucesso tal como aconte­cia com os bran­cos, a des­val­or­iz­a­ção da negritude emer­gia, “mais uma vez o des­tino dos negros per­mane­ceu sob o poder branco. Se um negro  quis­er um tra­balho e achar mais fácil obtê-lo caso abdique do seu cabelo nat­ur­al, esta será uma razão legí­tima para mui­tos para mudá-lo.” Parece claro que a luta revolu­cionária pela auto-estima negra con­tinua a rep­res­ent­ar um papel import­ante e muitas vezes sub­scrita por artis­tas da cul­tura Hip Hop. Dur­ante o solid­i­fi­car do movi­mento Black Power, mui­tos dos fundadores do Hip Hop nas­ciam ou cres­ciam através dele mesmo e a cul­tura Hip Hop emer­gia através de uma era que sofria de uma decepção dos movi­men­tos soci­ais. Apesar de se obser­var algum pro­gresso havia uma sensação de depressão que abrangia os mais oprimidos. 

A rebelião das mas­sas mostrou a necessid­ade de líderes for­tes e uma forte ana­lo­gia a este facto pode ser encon­trada no facto de mui­tos artis­tas ter­em  assum­ido esse papel ao dar­em voz à ira rep­rim­ida com que a América Negra se deparava. Apesar de mui­tos sub­lin­har­em que os artis­tas são fer­ra­mentas de entre­t­eni­mento e não líderes, Michael Eric Dys­on apon­ta que “tal visão apon­ta para o facto desta crise espir­itu­al ter pas­sado para a ger­ação do Hip Hop através das ger­ações negras anteri­ores, ao mesmo tempo que apon­ta para o facto de ter sido preenchido um vacu­um de lid­er­ança através uma expressão artística”. Hip Hop é um ramo do movi­mento artístico Negro o que mel­hor­ou a mensagem e trouxe um diá­logo acerca de assun­tos que afectam a comunid­ade negra Amer­ic­ana, de uma forma que nen­huma outra arte pop­u­lar con­seguiu, razão pela qual, Chuck D dosPub­lic Enemy se referir ao Hip Hop como a CNN da comunid­ade Negra.  O prin­cip­al object­ivo do movi­mento artístico Negro é a cri­ação de um tra­balho com­pro­metido polit­ica­mente que explora a cul­tura e a história negras. Através da refer­ên­cia das con­dições soci­ais do povo Negro e da sua habil­id­ade para guiar os seus seguid­ores através dos prob­lemas con­tem­porâneos do quo­tidi­ano urb­ano, o Hip Hopé mais do que arte e tal como o movi­mento artístico Negro é polit­ica­mente activo. 

Os Pub­lic Enemy  são um grupo de Rap que sempre encora­jou uma nova vaga de apoio ao Nacion­al­ismo Negro e ao Afro­centrismo. Em 1988, lançaram “Party for your Right to Fight”, tema acerca das prer­rog­at­ivas negras e um forte esclare­ci­mento acerca da auto-defesa do Black Pan­ther Party. Com um título sub­vers­ivo, foi uma res­posta ao tema dos Beast­ie Boys “Fight for your Right to Party”, e ilus­tra os for­tes ele­men­tos políti­cos do Rap, reproduzindo o Nacion­al­ismo Negro con­tem­porâneo. Mui­tos destes artis­tas, cres­ceram em per­íodos de rebelião ou tiveram pais que foram polit­ica­mente act­ivos dur­ante este tempo que os inspiraram. 

Tupac Shak­ur foi um dos artis­tas lig­ados a este ambi­ente revolu­cionário, sendo que a sua mãe Afeni Shak­ur per­tenceu aos Black Pan­thers. Tupac teve sempre presente este diá­logo político, vivendo entre aquilo a que ele ape­lidou de “Thug Life” e a sua pos­tura revolu­cionária ali­mentada pela sua edu­cação. Tupac não só reforçou o seu nacion­al­ismo interi­or como optou por uma abor­d­agem difer­ente dos revolu­cionári­os anteri­ores a ele. A com­preensão que tinha dos act­iv­is­tas do pas­sado per­mi­tiu-lhe aper­ce­ber-se da import­ante responsab­il­id­ade social presente no Hip Hop e usou a sua música como uma mensagem para levantar questões soci­ais e morais. Os artis­tas lig­ados à cul­tura HipHop, rap­i­da­mente vestiram o papel de mensageir­os, lançando diá­lo­gos polit­iz­a­dos e reforçando a imagem do Nacion­al­ismo e do orgulho Negro, dando esper­ança à América Negra e per­mitindo-lhes endereçar-se polit­ica­mente à situ­ação social em que estavam, apren­dendo com as fal­has dos movi­men­tos anteri­ores e con­stru­indo formas de atingir com sucesso a Liber­tação Negra. 

A ger­ação lig­ada ao Hip Hop é um produto da história Afro-Amer­ic­ana e uma cri­ação cul­tur­al Negra que reforçou o Nacion­al­ismo e o orgulho negros, dando à América Negra tal­entosos líderes con­tem­porâneos que se tor­n­aram vozes da luta que enfrentavam. 

Através de artis­tas  recon­hecidos por dar voz através da música como The Last Poets, Grand Mas­ter Flash, KRS-One, Pub­lic Enemy (entre mui­tos out­ros), através dos  Break Dan­cers e artis­tas que fizer­am com que os seus movi­men­tos e as suas latas de spray gan­hassem voz, o Hip Hop manteve-se vivo com­batendo as injustiças globalmente.

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